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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

“Eu vi um mundo Invertido”

(Talmud Babilônico, trecho do Pesachim) 

O que é a realidade? Como a percebemos? Ela existe sem nós ou é uma imagem criada dentro de nós, dependendo das nossas qualidades internas?
Parece óbvio – a realidade é tudo que vemos a nossa volta: casas, pessoas, todo o universo… Realidade é o que podemos ver, tocar, escutar, provar e cheirar. Isso é a realidade. É mesmo?

É manhã. Você abre os seus olhos e se espreguiça. É um novo dia, o sol está brilhando, e os pássaros estão cantando. Mas profundamente, internamente, você sente que algo não está certo. Você acorda do lado errado da cama e a ultima coisa que você quer fazer é levantar-se. Mas você lembra que ontem foi um dia perfeito; você sabia que seria um grande dia desde que você acordou, e brilhou assim o dia inteiro. E hoje, você nem mesmo quer sair da cama.

Então, o que mudou, na verdade? A realidade ou você?

De acordo com a cabala, a imagem do mundo que conhecemos, de fato, não existe. “O mundo” é um fenômeno sentido por seres humanos. Reflete o nível para o qual as qualidades da pessoa combinam com a qualidade da força abstrata fora dela, a força da natureza.

Então o que é essa força da natureza que nos cerca?
Cabalistas a descrevem como a qualidade de amor absoluto e doação. Além disso, explicam que o nível de equivalência entre as qualidades do homem e a qualidade da natureza é o que o homem percebe como o “mundo”.

O que isso significa? Vamos usar um receptor de rádio para demonstrar. As estações de rádio estão continuamente transmitindo, mas só escutamos alguma estação em especial quando a sintonizamos no radio, numa certa frequência. Como o receptor de radio “pega” a onda? Ele gera uma frequência interna que é idêntica ao som de uma das ondas no ar externo. Então, o receptor de rádio “pegou” a onda somente após ter mudado sua frequência interna, mas as ondas de som sempre existiram.

Cabalistas explicam que percebemos a realidade externa na mesma exata maneira – de acordo com a “frequência” que geramos internamente em nós. Em outras palavras, a realidade que nos cerca é completamente dependente das nossas qualidades internas. Então, somente nós podemos mudá-la.

Ainda está confuso?

A vida de alguém está dentro de si

Para poder entender a maneira que percebemos a realidade, vamos imaginar o homem como uma caixa fechada com cinco “aberturas”: olhos, ouvidos, nariz, boca e as mãos.
Tais órgãos representam nossos cinco sentidos – olhar, escutar, cheirar, provar e tocar. Percebemos a realidade através desses cinco sentidos. O alcance de tons que podemos escutar, aspectos que conseguimos ver, sentir.. e, então, estão completamente dependentes da percepção dos nossos sentidos.


Por exemplo, vamos ver como o nosso mecanismo de escuta funciona – Primeiro, as ondas de som reunem-se, próximas do tímpano e causam uma vibração nele. As vibrações do tímpano movem os ossos no ouvido médio, e como resultado os sinais são enviados ao cérebro. O cérebro , então, traduz as ondas em sons ou vozes. É assim que escutamos. Em outras palavras, todo o processo de escuta acontece dentro de nós. Todos os outros sentidos funcionam da mesma forma.

Os sinais que chegam através de todos os nossos sentidos vão ao centro de controle do cérebro. Lá, a nova informação recebida é comparada com a já existente na nossa memória. Baseado nessa comparação, nosso cérebro, então, retrata uma imagem de um mundo que parece “existir” na nossa “frente”. Este processo cria o sentimento que vivemos num “lugar específico”, embora esse, está, realmente, dentro de nós.



Então, o que nós realmente percebemos?

Somente nossa reação interna ao estímulo externo – não o que realmente está fora. Nós estamos “fechados dentro da nossa caixa”, então, não podemos dizer o que realmente existe lá fora. Nossas imagens da realidade, então, resultam da estrutura dos nossos sentidos e a informação existente no nosso cérebro. Anos atrás, a ciência descobriu que estimular eletricamente o cérebro humano, pode fazer com que uma pessoa sinta como se estivesse num certo lugar e situação.
De fato, cientistas já sabem que diferentes criaturas percebem o mundo de forma diversa.
A habilidade de poder enxergar no escuro, do gato, é seis vezes maior que a nossa. A capacidade de escuta do cachorro é muito mais afiada e sensível que a nossa – cachorros podem escutar sons comuns antes que as pessoas os escutem. O olho humano está sintonizado a um comprimento de onda que estende-se entre violeta e vermelho.
É por isso que não conseguimos ver uma extensão de onda menor que violeta, como a ultravioleta. No entanto, abelhas podem perceber tal radiação ultravioleta e usá-la para localizar diferentes tipos de flores. Tais exemplos facilmente demonstram que se os humanos tivessem outros sentidos, perceberiam uma imagem da realidade completamente diferente.


Era tudo um Sonho
Cabalistas explicam que o homem pode perceber a realidade em dois níveis, e ambos são completamente influenciados pelas suas qualidades internas:

No primeiro nível, a qualidade interna do ser humano é “egoísmo”, que é oposta a da natureza. Tal qualidade, que atualmente possuímos, nos faz sentir separados dos outros e mesmo encoraja-nos a ter vantagens sobre eles. Egoísmo é também a razão que a nossa imagem do mundo é de um de guerra, esforço, pobreza e corrupção.

No entanto, gradualmente nossa experiência de vida nos faz entender que a percepção egoísta não nos traz satisfação verdadeira, já que nunca pode prover um prazer que dure.
 
No segundo nível, mais elevado, nossa qualidade interna é de absoluto amor e doação – assim como a qualidade da força da natureza. Os que pecebem o mundo dessa forma podem ver como todas as pessoas funcionam como parte de um sistema, trabalhando em reciprocidade e criando um circulo de prazer sem fim.

De acordo com a cabala, nossa existência no primeiro nível é simplesmente uma fase que vivenciamos, e  seu propósito e deixar-nos independentemente mudar a nossa percepção da realidade. Cabalistas, que aprenderam a mudar a sua percepção, definem nosso estado atual como “a vida imaginária” ou a “realidade imaginária”.
Em contraste, eles chamam a existência perfeita, toda e corrigida como “vida real” ou “verdadeira realidade”. Quando repararam nas nossas percepções egoístas prévias, eles as descreveram como um sonho, pelo dito “vivíamos como elas naquele sonho” (Salmos 126:1)
Isso significa que atualmente a verdadeira realidade está oculta de nós. Não a sentimos porque percebemos nós mesmos e o mundo de acordo com as nossas qualidades internas, que são atualmente egoístas. No momento, não sentimos que todas as pessoas estão conectadas como uma porque repelimos tal tipo de relacionamento. O desejo egoísta impresso dentro de nós não está interessado em tais conexões, e é por isso que não nos deixa ver a verdadeira imagem da realidade.

Se invertermos nosso egoísmo para a qualidade da Natureza – amor e doação – vamos sentir e perceber coisas completamente diferentes a nossa volta que não notávamos antes. Além do mais, tudo que vimos antes vai parecer completamente diferente – todo, eterno e resoluto. É isso que os Cabalistas quiseram transmitir no verso “Eu vi um mundo invertido” (Talmud Babilônico, trecho do Pesachim)


Prove e Veja
A sabedoria da cabala ensina-nos que o nosso propósito na vida é independentemente elevar-nos da nossa atual, limitada existência para verdadeira, eterna existência.

Como fazer isso? A única maneira para sair da percepção egoísta é fazer contato com a realidade que existe fora dela. Para fazer isso, precisamos de livros autênticos cabalísticos, porque foram escritos por pessoas que descobriram a verdadeira imagem da realidade. Nos seus livros, cabalistas nos contam sobre a realidade perfeita, que está, de fato, próxima a nós. Precisamos mudar as nossas frequências internas pra poder "pegar" a transmissão.
Enquanto alguém lê sobre a verdadeira realidade, a neblina é gradualmente limpa sobre os sentidos de alguém, e , essa, começa a sentir tal realidade. De fato, cabalistas explicam que não é por entender o texto que nós mudamos as nossas qualidades. Mesmo se uma pessoa não entende o que ela lê, seu desejo de entender direciona a sua percepção.


Embora elas não entendam o que estão aprendendo, através da ânsia e o grande desejo de entender o que aprendem, despertam sobre si as luzes que cercam suas almas... Então, quando alguém nao possui os vasos (kli), quando esse, engaja nessa sabedoria e menciona o nome das luzes e os vasos relacionados à sua alma, imediatamente elas brilham nela a um certo nível..”
Baal HaSulam, "Introdução ao Talmude das Dez Séfiras (Talmud Eser Sefirot)"

A diferença entre a nossa atual sensação de vida e uma que poderíamos sentir é enorme. Para poder descrevê-la, O Livro do Zohar compara a diferença entre uma pequena luz de uma vela e uma luz infinita, ou como um grão de areia comparado a todo o mundo. No entanto, se tu realmente quiser saber o que isso significa, cabalistas sugerem que você veja por si mesmo.

"Prove e veja que o Lorde é bom"
Salmos 34:8