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sábado, 9 de fevereiro de 2008

Desvendando o Código da Felicidade


Na Cabala – a ciência da felicidade – a felicidade deixa de ser um mistério. Essa noção tão vaga pode ser dividida em partes e compreendida. E assim como e=mc2, existe uma fórmula para a felicidade plena.

“Rápido: pense numa coisa que te faria muito, muito feliz.”

Esse foi o tema da revista Newsweek em maio de 2007. Os maiores psicólogos, sociólogos, biólogos e economistas tentaram responder à eterna pergunta: “qual o segredo da felicidade?”, ou melhor, “o que é necessário para que sejamos felizes?”

Dinheiro na Mão

“Talvez o dinheiro?” foi a pergunta dos pesquisadores. “Se eu tivesse mais dinheiro,” como diria um típico sonhador, “eu poderia ter ou fazer tudo o que eu quero: viajar pelo mundo, comprar o que me der vontade, ser independente, tomar conta da minha vida... resumindo, o dinheiro tem que me fazer feliz, certo?”

Surpreendentemente (ou não), muitos estudos recentes mostram que assim que nós conseguimos o suficiente para satisfazer as nossas necessidades básicas, o dinheiro deixa de nos fazer felizes. Um famoso estudo mostrou que mesmo os ganhadores de loteria, que ficaram muito, muito felizes quando ganharam, rapidamente perderam a euforia. Depois de um tempo, o estado emocional deles voltou a ser o mesmo de antes de ganharem o prêmio.

Na verdade, assim que conseguimos mais dinheiro do que o suficiente para as nossas necessidades básicas, a nossa habilidade de aproveitá-lo é obscurecida por perguntas como, “será que eu ganho mais que fulano?” Porque não importa o quanto você ganha, sempre tem alguém ganhando mais.

Economia da Felicidade

E o tempo livre? Se trabalhássemos menos, teríamos a tão sonhada felicidade?

Os pesquisadores da felicidade também descartam essa hipótese de cara. No “Mapa Mundial da Felicidade”, recentemente publicado pela faculdade de psicologia da universidade de Leicester na Inglaterra, os ocupadíssimos americanos conseguiram um impressionante 23º lugar, enquanto os franceses, que contam com muito mais férias e tempo livre, ficaram em 62°.

Uma por uma, os pesquisadores da felicidade rebateram todas as teorias mais comuns sobre o caminho para a felicidade. Eles concluíram que, à longo prazo, coisas como uma carreira de sucesso, um casamento feliz, e mesmo uma boa saúde não garantem a nossa felicidade.

Então o que nos faria felizes? Essa é precisamente a pergunta que deixou os pesquisadores atordoados. De certa forma, é mais fácil identificar o que não nos faz feliz do que oferecer uma fórmula prática para a verdadeira felicidade.

“A ‘felicidade’ está em toda parte – Na lista dos best-sellers, na cabeça de administradores e rodeando os economistas – e ainda assim permanece indefinida,” concluiu Rana Foroohar, editora da revista Newsweek.

A Mecânica da Felicidade

Para desvendar o código da felicidade, temos que começar descobrindo o que nós realmente somos, qual é a nossa natureza. E isso é algo muito simples: nós somos o desejo se ser feliz. Em outras palavras, todos nós queremos prazer, alegria, ou como a Cabala define, nós somos o “desejo de receber”.

“... O desejo de receber constitui toda a matéria da criação, do seu começo até o seu fim. ... todos os vários tipos de criaturas e as suas variedades são apenas gradações e valores modificados do desejo de receber”
Cabalista Yehuda Ashlag (Baal Hasulam), “Prefácio à sabedoria da Cabala”.

Talvez isso soe como algo que você já saiba. Mas a nossa natureza, o desejo de receber, é mais sofisticado do que nós podemos imaginar. Não é apenas um desejo constante que está sempre nos empurrando a encontrar a felicidade. Esse desejo de receber motiva tudo que nós fazemos, todos os pensamentos que nós temos.

O desejo de receber procura satisfação a cada momento, e garante que nós não descansemos antes de satisfazer as suas demandas. Ele também determina constantemente como nos sentimos: se ele está satisfeito, nós ficamos felizes, nos sentimos bem, a vida é uma música; caso contrário, nos tornamos frustrados, nervosos, deprimidos e até mesmo violentos e suicidas.

Talvez você já tenha adivinhado isso também. Mas o que nós geralmente não percebemos – e isso é a chave para desvendar o código da felicidade – é o fato de que assim que o nosso “desejo de receber” é satisfeito, o prazer que sentimos desaparece.

O grande autor irlandês, Oscar Wilde, certamente sabia disso quando escreveu, “Nesse mundo só há duas tragédias. Uma é não conseguir o que se quer, e a outra é conseguir. Essa última é muito pior; essa última é uma verdadeira tragédia.”

A Cabala explica a mecânica desse processo: inicialmente, nós queremos alguma coisa e nos esforçamos para adquiri-la. Quando conseguimos o que desejamos, sentimos prazer, alegria, deleite. Ou, na linguagem da Cabala, o primeiro encontro entre o desejo e a sua satisfação é o ponto do prazer.

Até aqui tudo bem – mas o processo ainda não terminou. No momento que conseguimos a coisa que queríamos, o desejo se abate. Em outras palavras, nós gradualmente deixamos de querer o que nós alcançamos, e como resultado, o nosso prazer começa a se esvair... Até que ele desapareça completamente.

Por exemplo, você sabe como é quando está com muita fome: você poderia comer um boi inteiro (vegetarianos: considerem que esse boi é de glúten) Mas o que acontece quando você começa a comer?

A primeira mordida é puro êxtase, e a seguinte é maravilhosa. A outra é boa, e a que vem em seguida é... ok. A próxima é... tanto faz. E a próxima é: “não agüento comer mais nada, acho que vou passar mal...”

Isso acontece com tudo, não só com comida. Podemos passar anos sonhando com um carro bacana e quando finalmente o compramos, ficamos empolgadíssimos – bem, pelo menos por alguns momentos ou dias. Mas logo acabamos nos empolgando cada vez menos com o carro, até que ele deixa de nos dar qualquer tipo de prazer. E então toda vez que olhamos para o carro, a única coisa que sentimos é o peso do empréstimo gigante que nós temos que pagar pelos próximos dez anos!

O professor de economia Richard Easterling da universidade do sul da Califórnia, um pioneiro na pesquisa da felicidade, chama esse fenômeno de “adaptação hedonista,” que significa que “nós compramos um carro novo, e nos acostumamos com ele. Nós compramos roupas novas, e nos acostumamos de novo... Nós nos ajustamos muito rapidamente aos prazeres que conseguimos...”

Mas esse não pode ser o fim da história, pode? Afinal, mesmo descrevendo isso, todos nós aqui esperamos encontrar o prazer duradouro. Será que a Natureza nos colocou nesse círculo vicioso para nos manter eternamente infelizes? Poderia a felicidade ser só um conto de fadas, uma história de Papai Noel que nunca se tornará realidade?

A Fórmula (Secreta) da Felicidade

Felizmente, a Cabala explica que a Natureza não é nem um pouco cruel; na verdade, o seu único desejo é nos trazer a felicidade que buscamos. Se a nossa aspiração à felicidade não fosse para ser atingida, nós nem mesmo a teríamos. O propósito da Natureza é permitir que nós independentemente atinjamos uma sensação de completa e total felicidade – não uma felicidade “mais ou menos” ou uma felicidade “na maioria das vezes”, mas uma felicidade que é absoluta, perfeita, e eterna.

E nós estamos muito mais perto do que pensamos. Na verdade, a recente tendência da pesquisa da felicidade e a nossa crescente percepção de que nunca estamos satisfeitos nos deixou mais próximos da felicidade verdadeira. Estamos começando a identificar um padrão: a felicidade não tem nada a ver com quanto dinheiro nós ganhamos ou com a qualidade do nosso casamento – na verdade, ela não tem nada a ver com nenhum outro tipo de prazer que nós tentamos receber. Estamos começando a descobrir o fato fundamental de que a felicidade só pode ser sentida usando-se um princípio diferente de prazer.

Nesse ponto, a Cabala nos ajuda a resolver o problema da felicidade na sua raiz. Já explicamos por que nós nunca sentimos um prazer duradouro em nada: porque assim que o prazer encontra o desejo, o desejo é neutralizado. E como o desejo é neutralizado, não podemos mais desfrutar do prazer.

A Cabala explica, portanto, que o segredo da felicidade é adicionar outro ingrediente nesse processo, o ingrediente da “intenção.” Isso significa que nós continuamos desejando como antes, só que invertemos o nosso desejo: nós o direcionamos para fora, como se estivéssemos doando para outra pessoa. Em outras palavras, essa intenção transforma o nosso desejo em uma “porta de passagem” para o prazer. Assim, o prazer que sentimos não para; ele vai continuar a passar por nosso desejo, seguindo a nossa intenção. E o nosso desejo será capaz de receber continuamente, sem nunca ser abatido.

E essa é a fórmula para o prazer interminável, ou felicidade duradoura. Quando uma pessoa aplica essa fórmula, ela gradualmente passa por uma profunda transição e começa a sentir diferentes tipos de prazeres. A Cabala chama esses prazeres de “prazeres espirituais”, e são precisamente esses os prazeres intermináveis.

Concluindo – um Pequeno Sumário

O que é a felicidade?

É o que sentimos quando nós saciamos o nosso “desejo de receber.”

Por que ela vai embora?

Porque o prazer neutraliza o nosso desejo, e sem um desejo, nós não conseguimos sentir prazer.

Qual é a formula do prazer interminável?

Adicionar uma “intenção de doar” ao nosso “desejo de receber,” para que o prazer continue a fluir pelo nosso desejo, interminavelmente.

A verdadeira felicidade está bem ao nosso lado, esperando que aprendamos como senti-la, como adicionar uma intenção ao nosso desejo. Estudando Cabala, nós naturalmente adquirimos essa nova intenção espiritual, e começamos a receber da maneira que a natureza quer que recebamos – perfeitamente. É por isso que “Kabbalah” em hebraico quer dizer “recepção” – é a sabedoria que nos ensina como receber.

Artigo original: Cracking the Happiness Code